sábado, 30 de novembro de 2013
A natureza gaiata dos sábados
Talvez por não serem dias úteis, os sábados se comprazem em brincadeiras. Uma delas é a de nos matarem de saudades. Nenhum outro dia sabe, como eles, montar cenas, armar um filme, a que vamos assistindo com espanto. Momentos únicos, ensolarados, nos quais qualquer mortal se sentiria tocado pela rara simpatia dos deuses. Vivemos mesmo tudo aquilo? Tivemos mesmo diante dos olhos a revelação do amor? Somos nós, não há dúvida. É o nosso o rosto que a tela mostra, um rosto que nunca mais teremos, um rosto ao qual o amor emprestou seus traços. Que hábil cineasta é o sábado. No meio do filme, vamos sentindo que aquilo, como na vida, só pode acabar mal. A boa vontade dos deuses dura pouco. O sábado, com licença deles, nos conduz para as últimas cenas. Puxa uma tesoura e começa a cortar tudo. Tem sangue entre os dedos. Quando fechamos os olhos, ele nos tranquiliza. É tudo só uma brincadeirinha, diz, e manda que lhe lambamos a mão. É extrato de tomate, garante. Só o gosto é de sangue.
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