"Os que se amaram como nós? Busquemos
as antigas cinzas do coração queimado
e ali que tombem um por um nossos beijos
até que ressuscite a flor desabitada.
Amemos o amor que consumiu seu fruto
e desceu à terra com rosto e poderio:
tu e eu somos a luz que continua,
sua inquebrantável espiga delicada.
Ao amor sepultado por tanto tempo frio,
por neve e primavera, por esquecimento e outono,
acerquemos a luz de uma nova maçã,
do frescor aberto por uma nova ferida,
como o amor antigo que caminha em silêncio
por uma eternidade de bocas enterradas."
(De Cem sonetos de amor, tradução de Carlos Nejar, publicado pela L&PM.)
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