"É uma coisa muito estranha, a forma pela qual se adquire a arte de escrever. Refiro-me aos detalhes. Por exemplo: em Miss Brill, eu escolho não apenas o comprimento de cada frase, mas até o som de cada uma delas. Escolho o subir e descer de cada parágrafo para que se ajuste a ela, e que se ajuste a ela naquele dia, naquele exato momento. Depois de escrever, leio em voz alta - inúmeras vezes - assim como alguém ensaiaria uma composição musical - na tentativa de fazer com que se aproxime cada vez mais da maneira como Miss Brill se expressava. Até que se ajuste a ela.
Não pense que estou sendo vaidosa no que se refere ao pequeno esboço. Eu queria apenas explicar o método. Muitas vezes eu queria saber se outros escritores fazem o mesmo. Se uma coisa fica realmente pronta, me parece que não deve haver uma única palavra fora do lugar, ou uma palavra que pudesse ser omitida. É a minha intenção ao escrever. Levará algum tempo para que eu consiga chegar perto disso.
Mas você sabe, Richard, na noite passada estive pensando que as pessoas mal começaram a escrever. Por um momento, exclua a poesia, e deixe Shakespeare de lado - refiro-me à prosa. Pegue o que haja de melhor nela. Não estão ainda dividindo-a em trechos, em vez de lidar com a ideia num todo? Tive um momento de completo terror, durante a noite. De repente, pensei em uma mente viva - toda uma mente sem ficar absolutamente nada de fora. Com tudo o que se sabe, quanto ainda não se sabe? Eu costumava imaginar que conhecíamos tudo, com exceção de uma espécie de misterioso núcleo. Mas agora penso exatamente o contrário. O desconhecido é muito, muito maior do que o sabido. O conhecimento é apenas uma sombra. Isso é uma coisa terrível e terrivelmente dura de se encarar. Mas tem de ser enfrentado."
(De Diário & cartas, tradução de Julieta Cupertino, publicado pela Editora Revan.)
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