Escrever me parece às vezes uma forma de desnecessidade, uma desculpa que encontrei para ganhar a vida sem maior esforço. Quando me lembro do trabalho absurdo que certos livros me deram, dos dias de trinta e tantas horas dedicados febrilmente a terminá-los, sinto certo conforto. Mas logo me volta a suspeita de que, comparado a outras atividades, o ato de escrever é quase como uma distração. Invejo os lavradores, que tiram frutos da terra, e, entre os artistas, os pintores e os escultores, que mexem com substâncias, com coisas tangíveis, que as transformam. Os escritores mexem em quê? Em nuvens, em abstrações.
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