domingo, 19 de janeiro de 2014
Um engano
Eu te imaginava aventureira, destemida, partilhando comigo tua ousadia e espicaçando a minha. Fugiríamos de madrugada, num cavalo cuja garupa dividiríamos, e sumiríamos numa parte do mundo onde não nos acharia ninguém. Eu me enganei. Assim como eu sou um bundão, és uma dona de casa. Respondes pelas provisões dos teus, e teus belos olhos percorrem não montes insondáveis, mas prateleiras. Esperam por ti e pelos teus pacotes de supermercado os teus filhos, a tua mãe. Esperam teus cachorros, teus gatos. Se eu fosse teu passarinho, tu não te esquecerias do meu alpiste, como não te esqueces do pistache do papagaio. E eu que me imaginava passando fome contigo num lugar totalmente ignoto e vazio, vivendo do que o amor a natureza nos propiciassem.
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