"Sua própria explicação para os fracassos no amor, agora velha e cada vez menos confiável, é que ainda tem de encontrar a mulher certa. A mulher certa enxergará, através da superfície opaca que ele apresenta ao mundo, as profundezas interiores, a mulher certa destravará as intensidades ocultas de paixão dentro dele. Até a chegada dessa mulher, até o dia destinado, ele está só passando o tempo. Por isso Marianne pode ser ignorada.
Uma questão ainda o atormenta e se recusa a ir embora. Será que a mulher que destravará as reservas de paixão dentro dele, se existir, libertará também o fluxo bloqueado da poesia; ou, ao contrário, depende dele próprio se transformar em poeta e assim provar-se digno do amor dela? Seria bom se a primeira hipótese fosse a verdadeira, mas desconfia que não é. Assim como se apaixonou à distância por Ingeborg Bachmann de um jeito e por Anna Karina de outro, assim também, desconfia, a predestinada terá de conhecê-lo por suas obras, se apaixonar por sua arte antes de ser tola a ponto de se apaixonar por ele."
(Do romance Juventude, tradução de José Rubens Siqueira, publicado pela Companhia das Letras.)
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