"Foi assim que numa tarde úmida de verão terminou o casamento de Claire Falk, que já durava vinte e seis anos, mais da metade de sua vida: cometeu o erro estúpido de surpreender uma conversa.
Era um monólogo, apenas uma parte de uma conversa, porque o marido falava ao telefone. Um monólogo sem palavras, sem palavras que se pudesse distinguir claramente, pois estava a alguma distância. Ouvia apenas sons. A voz do marido, curiosamente imatura e sentida, a voz de um rapaz, e no entanto, muito dele. Ela a reconheceria em qualquer lugar.
Discutia com alguém. E suplicava. A voz subia, descia, calava. E tornava a soar: estridente, apaixonada, pusilânime, exasperada, temerosa. Uma música áspera, entrecortada, dissonante, que Claire nunca ouvira antes.
Ou se ouvira - fora há muito tempo, anos atrás.
Ela recuou colando-se à parede, os ouvidos atentos. Embora não tivesse a intenção real de bisbilhotar. Mesmo num momento de choque, de nauseante apreensão, não queria devassar a intimidade de outra pessoa. Mas com quem falava o marido naquele tom irritado, íntimo, por que se mostrava tão repentina e estranhamente servil? Claire sentia impulsos de ir ao seu encontro, de consolá-lo. Fazia muitos anos desde que precisara consolá-lo."
(Do conto "Rainha da noite", extraído do livro Educação sentimental, publicado pela Anima.)
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