"Sem se dar conta, enquanto escrevia era observada por Joseph, de olhos postos em sua nuca e em suas costas. A bela cabeleira feminina em seus cachos anelados de leve lhe tocava e lhe roçava a nuca. Como era esbelta, como era inteira aquela aparição feminina. Ela estava ali, esforçando-se para escrever com a alma e a consciência, seguindo as regras ortográficas e com o método correto da boa redação, a uma mulher que talvez mal dominasse a leitura. Sem querer, Joseph agora lamentava tê-la repreendido por sua altivez burguesa que, no fundo, achava encantadora. Alguma coisa o comovia naquele dorso feminino cujo vestido encolhia-se em pequenas e delicadas dobras sempre que, por baixo dele, o corpo se mexia. Uma mulher bonita? De acordo com os parâmetros usuais de beleza, seguramente não. Mas o contrário, de acordo com esses mesmos critérios, tampouco era verdadeiro."
(De O ajudante, tradução de Zé Pedro Antunes, publicado pela Arx.)
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