quarta-feira, 12 de março de 2014

Cotação do dia

Todos os dias faço o mesmo número. Me esfalfo nele, me dou inteiro, ponho a alma nas mãos e deixo que o público a apalpe. Curvo-me depois, reverente, como se tivesse recebido aplausos. Nunca me aplaudem. Vou embora, volto para casa e me empenho de novo nas minúcias do número. Devo aperfeiçoá-lo. Ele é tão antigo que minha memória deve ter esquecido algum detalhe, talvez o mais importante. Eu sou o mesmo, a alma é a mesma, por que não me aplaudem mais? Lembro-me de minha mãe batendo palmas, do seu entusiasmo, do seu rosado rosto polonês aberto num sorriso de orgulho. Alguém me aplaudirá ainda algum dia? Alguém me abraçará? Ah, se eu ouvisse ainda uma vez: "Menino, você tem futuro!"

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