domingo, 9 de março de 2014
Inolvidáveis emoções da infância e da adolescência (15)
Na porta do prédio, a mulher soltou uma baforada do seu cigarro e, com ela, as palavras: "Vamos lá em cima fazer nenê?" Eu parei, apalpei as notas no bolso da calça. Estava confuso, estarrecido, estupefato, excitado. Estivera observando a mulher por uma hora, do outro lado da rua. Nesse tempo, ela subira duas vezes: uma com um gordalhão careca, a outra com um rapaz talvez cinco anos mais velho que eu. Embaixo, eu, contorcendo-me, a imaginara aberta para um e para o outro, gemendo. Jamais tinha estado com uma mulher e decidira que seria naquela noite. "Vamos fazer um nenezinho?", ela insistiu. Eu não conseguia nem respirar. Aproximou-se então um homem que ela chamou de Tonho e que, depois de beijá-la na boca, foi entrando com ela no prédio. Eu comecei a me afastar, doente, enciumado, febril, decepcionado. Do saguão vieram as gargalhadas deles. Falavam provavelmente de mim, do menino tolo que mais uma vez ia voltar para casa sem saber o que era mulher. Novamente eu havia me apavorado na hora H. Se ela houvesse dito simplesmente "vamos subir?", eu acho que teria ido com ela. Já no ônibus, a expressão "fazer nenê" me perturbava ainda, e ora eu me sentia o jovem que era, ora me considerava já um homem. Por muitos anos a cena me acompanhou. Havia naquele convite uma promessa de pecado e de sordidez que nunca mais voltei a sentir tão intensamente. E eu fugira dela.
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