"ROSA VERMELHA
A esposa do guerreiro está sentada à janela.
De coração aflito, borda uma rosa branca numa almofada de seda.
Picou-se no dedo! Seu sangue corre na rosa branca, que se torna vermelha.
Seu pensamento vai ter com seu amado, que está na guerra
e cujo sangue tinge, talvez, a neve de vermelho.
Ouve o galope de um cavalo... Chega, enfim, seu amado?
É apenas o coração que lhe salta com força no peito...
Curva-se mais sobre a almofada e borda com prata
as lágrimas que cercam a rosa vermelha."
"DIANTE DO VINHO
Vinho de uva.
Taças de ouro.
Uma jovem de quinze anos que chega num esbelto cavalo.
Suas sobrancelhas, pintadas de negro,
Suas botas, de cetim vermelho.
Ela tropeça um pouco nas palavras, mas canta com meiguice.
No rico festim, embriaga-se nos meus braços.
- Que farei de ti, sob as cortinas de hibisco?"
"CANÇÃO DAS CABEÇAS BRANCAS
Sempre me repetíeis: 'Envelheceremos juntos.
Ao mesmo tempo que os meus, teus cabelos se tornarão
brancos como a neve das montanhas, como a lua de verão...'
Hoje, Senhor, soube que amais outra mulher
e venho, desesperada, dizer-vos adeus.
Pela última vez, enchamos com o mesmo vinho as nossas duas taças.
Pela última vez, cantai a canção que fala de um pássaro morto sob a neve.
Depois, embarcarei no rio Yu-keú
cujas águas se dividem para leste e para oeste.
Para que chorais, jovens noivas?
Desposareis talvez um homem de coração fiel
que vos repetirá sinceramente:
'Envelheceremos juntos...'"
(Do livro Poemas chineses, tradução de Cecília Meireles, publicado pela Editora Nova Fronteira.)
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