"Sei que sou sólido e são,
Os objetos do universo convergem eternamente para mim,
Tudo foi escrito
para mim e devo decifrar o seu sentido.
Sei que sou imortal.
Sei que esta minha órbita não pode ser traçada pelo compasso de um carpinteiro,
Sei que não me apagarei como o fogo do archote que uma criança leva pela noite.
Sei que sou majestoso,
Não atormento o meu espírito para quem se defenda ou explique,
Sei que as leis elementares nunca se desculpam,
(No fim de contas, reconheço que o meu orgulho não é mais alto do que o nível
onde edifico a minha casa).
Existo como sou, e isso basta.
Se mais ninguém no mundo fica satisfeito,
E se todos e cada um o sabem fico satisfeito.
Há um mundo que o sabe e é sem dúvida o mais vasto para mim, e esse sou eu
próprio,
E se o reconheço hoje ou dentro de dez mil anos ou dez milhões de anos,
Alegremente o posso aceitar agora, ou alegremente posso esperar.
O apoio do meu pé é entalhado em granito,
Rio-me daquilo que chamas dissolução,
E conheço a amplitude do tempo."
(Do livro Canto de mim mesmo, tradução de José Agostinho Baptista, publicado pela Assírio & Alvim, Lisboa.)
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