sábado, 17 de maio de 2014
Gatos
É a terceira noite, já, que ela acorda com as escaramuças amorosas dos gatos na rua, com os miados curtos, longos, entrecortados, unidos, mesclados, que lhe arrepiam a nuca. Como na primeira e na segunda noites, ela puxa as pontas do travesseiro para os ouvidos e tenta mergulhar novamente na escuridão do sono. Parece que vai conseguir desta vez. Os gatos silenciaram e ela já ouve, ao longe, o apito do guarda-noturno. Seu corpo, que já começara a se retesar, vai se distendendo aos poucos. Ela suspira, de alívio. Mas logo os sons do amor voltam e os miados se tornam agudíssimos, longuíssimos, aflitíssimos, agônicos. Ela desiste de ignorá-los e agora os acompanha com os nervos eriçados. Faz ainda uma última tentativa de resistir, mas, assim como na primeira e na segunda noites, acaba fazendo a mão deslizar, nervosa, chegar ao ventre e, ansiosa, descer um pouco mais.
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