Vivi outra vida, cinco séculos atrás. Eu era humilde, como hoje. Não me distinguia em nada, embora me considerasse, como agora, poeta. Assim como esta, foi obscura aquela vida. E, assim como nesta, apaixonei-me absurdamente por uma rainha. Tive melhor sorte então. Favorecido por um deus benigno, eu, o mais insignificante dos lacaios, era em certas noites introduzido na alcova real e, pela madrugada adentro, em tons que a paixão me ditava, murmurava minha alteza, minha rainha, minha majestade adorada, e ouvia, em resposta: poeta, meu poeta, ai, poeta.
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