"Sobre a relva recém-cortada,
Caminhando solitário,
Encontrei entre as ervas um buraco
E no fundo dele escondi um soldado.
A primavera e as margaridas chegaram;
A erva cobriu o meu esconderijo;
A erva cresceu como um mar verde
Até os meus joelhos.
Debaixo da erva ele jaz,
Olhando para cima com os seus olhos de chumbo,
Casaco escarlate e longo fuzil,
Voltado para o sol e para as estrelas.
Quando a erva amadurecer como o cereal,
Quando afiada estiver a foice,
Quando ceifada estiver a relva,
Reaparecerá o meu buraco.
Sem dúvida que o encontrarei,
E encontrarei o meu granadeiro;
Mas acima de tudo
Encontrarei o meu soldado mudo,
Ele viveu, coitado,
Nos verdes bosques da primavera;
Depois, se me pudesse dizer a verdade,
Diria aquilo que eu gostaria de fazer.
Ele viu as horas e todas as suas estrelas
E as flores que floresceram;
E as coisas de fadas que acontecem
Nas verdes florestas.
Em silêncio ouviu
Falarem as abelhas e as joaninhas,
E as borboletas voarem
Sobre ele que sozinho jazia.
Mas não dirá uma palavra,
Uma única palavra de tudo o que sabe.
Terei de o deixar no seu leito,
E inventar eu toda a história."
(Do livro Poemas de Robert Louis Stevenson, tradução de José Agostinho Baptista, publicação da Assírio & Alvim, Lisboa.)
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