domingo, 22 de junho de 2014
A verdade
A verdade é que eu gostaria de escrever um texto em que houvesse tristeza em cada uma das palavras. Que toda vogal, que cada consoante, fosse intoleravelmente pungente e melancólica e que até as vírgulas dessem vontade de chorar. Que o monitor, assim que o texto recebesse o ponto-final, ficasse úmido e que os leitores me amaldiçoassem por eu lhes estragar o dia. Que eu fosse chamado de doente, pernicioso e nocivo e que a Associação de Saúde Mental conseguisse tirar o blog do ar. Tenho algumas obsessões, mas todas no fundo podem ser resumidas numa só, que eu alimento com o que tenho de melhor na alma: escrever um texto triste, tão insuportavelmente triste, que até violinos guardados há séculos em seus estojos fizessem soar notas agudíssimas, como se de cada um deles tivesse se apossado o fantasma de Paganini. E que todos os pianos do mundo parecessem tocados por Chopin, e chorassem todas as tristezas de todos os homens e mulheres de todos os tempos, desde aquele e aquela expulsos do Paraíso.
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