segunda-feira, 9 de junho de 2014
As botas
Diante do quarto fechado ele foi atendido por uma serviçal da amada. Pediu-lhe que o anunciasse. A mulher disse-lhe que a hora não era conveniente, mas ele insistiu tanto que ela abriu a porta, fechou-a rapidamente depois de entrar e demorou-se por alguns minutos lá dentro. Com o coração agoniado pela paixão amorosa, ele ouviu cochichos e, em seguida, o ruído alvoroçado de alguém que parecia andar pelo quarto. A mulher voltou, manteve a porta entrefechada e disse-lhe que sua senhora o receberia, mas pedia que ele tirasse os sapatos, porque o tapete que haviam colocado ali na véspera era de um tecido muito sensível e valioso. Ele obedeceu rapidamente, mas a serviçal só liberou sua passagem depois de ambos ouvirem o som que parecia ser o da grande janela se abrindo e fechando logo em seguida. Ele entrou. Deitada, a mulher de sua vida bocejava como se houvesse acabado de despertar, embora seus olhos se fixassem na janela. Ele ouviu os cachorros latindo fora, e, no tapete, duas marcas, das quais ainda se exalava um cheiro de relva, como o que costuma ficar nas botas dos camponeses.
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