"Chegam imperceptíveis, ao seu encontro
Se dirigem as crianças; a felicidade é excessiva e cega-nos
E o homem recua, mesmo um semideus mal consegue dizer
Os nomes daqueles que com dádivas dele se aproximam.
Mas eles transmitem ânimo e as suas alegrias
Enchem-lhe o coração e, confundido, não sabe como dispor desse bem,
Cria, é pródigo e o profano torna-se sagrado,
Pois ele o toca loucamente, benignamente, abençoando-o.
Durante um tempo os deuses permitem-no; depois são eles
Que aparecem de verdade e os homens à felicidade e ao dia
Se habituam e a contemplar os revelados, o rosto
Daqueles desde há muito nomeados como o Uno e o Todo,
Os que encheram de livre plenitude os peitos silenciados,
Os únicos capazes de saciar todos os anseios;
Assim é o homem; quando o bem lhe chega e até um Deus cuida dele
Enchendo-o de dons, não o reconhece e não quer saber.
Tem, antes, que sofrer; depois, quando nomeia o que ama,
Nada pode impedir que as palavras surjam como flores."
(Do livro Elegias, tradução de Maria Teresa Dias Furtado, publicado pela Assírio & Alvim, Lisboa.)
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