sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"Canção dos caramujos que vão ao enterro", de Jacques Prévert

"Ao enterro de uma folha seca
Vão dois caramujos
Têm a concha negra
E véu negro em volta das antenas
Vão pela noite
Uma bela noite de outono
Quando chegam coitados!
Já chegou a primavera
E as folhas que jaziam pelo chão
Todas tinham ressuscitado
Os dois caramujos
Ficam muito desapontados
Mas eis o sol
O sol que lhes diz
Façam o favor façam
O favor de sentar
Tomem um copo de cerveja
Se vontade lhes dá
Tomem caso queiram
O ônibus para Paris
Parte esta noite
Poderão admirar a paisagem
Mas não ponham luto
Sou eu quem lhes aconselha
Escurece o branco do olhos
E também enfeia
Histórias de enterro
São tristes e nada belas
Ganhem as suas cores
As cores da vida
Então animais
Árvores plantas todos
Começaram a cantar
A cantar aos berros
A verdadeira canção viva
A canção do verão
E todo o mundo a beber
E todo o mundo a saudar
É uma bela noite
Uma bela noite de verão
E os dois caramujos
Voltam pra casa
Voltam muito comovidos
Muito felizes
Como beberam demais
Ziguezagueiam um pouco
Mas no céu lá no alto
A lua protetora."

(Do livro Poemas, tradução de Silviano Santiago, publicado pela Editora Nova Fronteira.)

























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