"No começo de junho, Valerie Solanas atirou em Andy Warhol. Embora tendesse a não ser romântico com relação aos artistas, Robert [Mapplethorpe] ficou muito abalado com o fato. Ele adorava Warhol e o considerava o artista vivo mais importante. Foi o mais próximo da idolatria de um herói que chegou na vida. Respeitava artistas como Cocteau e Pasolini, que misturavam vida e arte, mas, para Robert, o mais interessante de todos era Warhol, documentando a mise-en-scène humana em sua Factory prateada.
Eu não me sentia como Robert em relação a Warhol. Seu trabalho refletia uma cultura que eu queria evitar. Odiava aquela sopa e não ligava para a lata. Eu preferia um artista que transformasse seu tempo, não que o espelhasse."
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"Meu pai admirou o virtuosismo do desenho e o simbolismo das obras de Salvador Dalí, mas não via mérito nenhum em Picasso, o que levou à nossa primeira desavença séria. Minha mãe ficou ocupada cercando meus irmãos, que deslizavam pelo piso liso de mármore. Tenho certeza de que, enquanto descíamos a grande escadaria, eu parecia ser a mesma de sempre, uma menina embasbacada de doze anos, toda braços e pernas. Mas secretamente eu sabia que havia sido transformada, comovida pela revelação de que os seres humanos criavam arte, de que ser artista era ver o que os outros não conseguiam ver."
(Tradução de Alexandre Barbosa de Souza, publicação da Companhia das Letras.)
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