"Na verdade, se teimarmos em chamar prostituição alguém entregar-se por dinheiro, não, como é comum, com toda a sua pessoa, mas apenas o seu corpo, então de vez em quando Leona se prostituía. Mas quem durante nove anos, como ela fazia desde os dezesseis, conhece a mesquinharia dos ordenados que se pagam por dia nos cabarés vagabundos, e leva em consideração o preço das roupas, os descontos, a avareza e a arbitrariedade dos proprietários, a porcentagem sobre a comida e bebida de clientes animados e sobre as contas dos quartos do hotel vizinho, quem tem de lidar com tudo isso diariamente, brigar e calcular tudo comercialmente, sabe que aquilo a que os leigos chamam devassidão é uma profissão plena de lógica, objetividade e regulamentos. Exatamente a prostituição é um fenômeno no qual faz grande diferença se o encaramos de cima ou de baixo."
(De Um homem sem qualidades, tradução de Lya Luft e Carlos Abbenseth, publicação da Editora Nova Fronteira.)
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