"Me ensaboou com espalhafato. No instante em que tocou nas minhas partes olhava para o lado, erguendo as sobrancelhas, tão espessas que pareciam dois bigodes.
- Pronto, prontinho, vem aqui que eu te seco.
Ajoelhou-se, mordendo a língua, perigosamente próxima a soberba carapinha, floresta onde habitavam leões ferozes. Um talquinho, frô? E com o tempo aprendi que na linguagem dela frô era um sinal de ataque.
- Bonitinho - disse, entre nuvens de talco. - Ui, como é durão!
Arregalava os olhos, mas o assombro era fingido. E sabia ser jeitosa, querendo, essa tal de Irene, pois fazia tudo de mansinho, como se tivesse nas mãos um bibelô de porcelana. Às vezes ria sozinha, decerto redimida naquela casa em que uma teta pendurada dava escândalo.
- Foi bom? Gostou?
Levantou-se, apertando as cadeiras doídas. De novo me cobri com a toalha e então ela me agarrou, me beijou na boca com violência.
- Tu é meu!
Espiou pela porta, escutou e saiu ligeirinho, me deixando todo branco de talco, grogue e com um porre de fumo na boca."
(Do conto "Irene", do livro Doce paraíso, publicação da L&PM.)
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