terça-feira, 21 de junho de 2016
15h41
Sem ninguém para atender na lojinha, pus-me a conversar com meu gerente, Monsieur Pierre. Ele começou a se lembrar de pessoas especiais com quem conviveu, e notei sua emoção atingir o auge quando falou de "dona Arlene, tão boazinha". Foi ela, "dona Arlene", quem emprestou Monsieur Pierre para me fazer companhia neste triste bazar de lembranças amorosas. A gratidão de Monsieur Pierre levou-me a pensar em algo que me vem afligindo muito: a hipótese de repentinamente distrair-me, morrer e deixar de dizer, a algumas pessoas, como elas me são caras. É bem o momento de prestar contas. Venho ouvindo, de madrugada, passos leves do lado de fora da casa, femininos e fatais. Chegou a hora de dizer, e direi, por exemplo, que Jorge Cláudio Ribeiro, da Olho Dágua, foi o primeiro editor a ver em mim alguém que talvez pudesse ser escritor. A muitos outros devi, depois, a bondade de fecharem os olhos e não verem meus tantos defeitos: Carmen Lucia Campos, Ione Meloni Nassar, Luciana Miranda Penna, Tatiana Costa. Mas, sem o Jorge, talvez eu não chegasse a conhecer os outros. Com o passar dos dias, quem sabe eu possa, se numa destas madrugadas não me seduzir uma escapada atrás dos passos femininos e fatais, falar de mais pessoas. Não será importante para elas, certamente. Não sou ninguém. Mas será essencial para mim e me fará bem, como agora.
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