Não tem mexido mais na gaveta onde estão as cartas que recebeu da amada há cinco anos. Na última vez em que a abriu, há uma semana, dela haviam escapado duas borboletas e, ao contar as cartas, ele notara que já não eram dezessete, mas quinze. Mantém agora a gaveta fechada como um túmulo. Quando passa perto dela, ouve sempre um bulício que não parece o de cartas, mas o de asas. São as borboletas nutrindo-se das palavras, decerto. Quando o ruído lhe avisar que elas estão prontas, ele soltará as borboletas. Que melhor destino pode haver para cartas de amor?
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