"Sim, lembro daquela parede
na nossa cidade destruída.
Projetava-se quase até o sexto andar.
No quarto havia um espelho,,
um espelho inacreditável,
não quebrado, fixo com firmeza.
Já não refletia a face de ninguém,
a mão de ninguém ajeitando o cabelo,
nenhuma porta defronte,
nada que se possa chamar
de lugar.
Era como nas férias -
via-se refletido nele o céu vivo,
as nuvens agitadas no ar feroz,
o pó do entulho lavado por chuvas luzentes,
voos de pássaros, estrelas, alvoradas.
E como cada objeto bem-feito
funcionava impecavelmente,
com uma profissional falta de assombro."
(Do livro Um amor feliz, tradução de Regina Przybycien, publicado pela Companhia das Letras.)
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