Daquele bloquinho meio clandestino
Encanta a ela a maciez com que ele lhe toca os cabelos. Os dedos parecem os de um joalheiro mexendo em um daqueles diademas que, por sua preciosidade, só saem do cofre em ocasiões excepcionais. Ele quase realiza o prodígio de tocar sem tocar e, ao mesmo tempo, é como se avaliasse fio por fio com a delicadeza de quem sente, em cada um, que o ouro, assim como os seres humanos, tem uma alma. O rosto dele é o rosto que teria a beatitude. E, no entanto, em cada toque suave ele imagina estar com os dedos mergulhados em ouro, sim, mas num ouro de fios mais espessos e de um olor mais denso e morno que o dos cabelos.
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