Como ferros
Agrada-lhe, enquanto a beija, dizer para dentro da sua boca palavras apaixonadas. Algumas ele inventa. São só sílabas entrecortadas, murmúrios de saliva prejudicados pelos espasmos do corpo empenhado em manter o ritmo do amor. Também ela inventa algumas, bem curtas. E são essas que depois, já em casa, ao lembrá-las, reacendem nele o fogo e o fazem lamentar, quase chorar, que só no dia seguinte se reencontrarão as duas bocas, cheias de vocábulos traiçoeiros como cobras e de dentes que mordem e sangram os lábios como ferros marcando reses para o banquete do Diabo.
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