segunda-feira, 20 de maio de 2019
Sucuri
No restaurante, observa a mulher, já beirando a meia-idade, com a mão na coxa do rapaz, quase um adolescente ainda. Ela tem as compridas unhas pintadas com um esmalte rubro que, ele não sabe por quê, o faz pensar numa sucuri aproximando-se de um bezerro. O rapaz parece intimidado, mas não assustado. Sua excitação é visível. Seu receio talvez seja o de ser visto por algum amigo ou amiga com essa mulher que, se não fossem os dedos subindo milímetro a milímetro pela coxa dele, poderia ser sua mãe. O restaurante está vazio agora. Restaram só ele e a mulher com o rapaz. A sucuri apoderou-se da braguilha. O garoto está perdido. Deveria ter pena dele, mas sente crescer uma raiva e um ciúme que o fazem apalpar a própria braguilha. Gostaria que sua mão fosse como a da sucuri, que aperta agora descaradamente o rapaz. Ele, observador, nunca mais se livrará dessa cena. Ela o acompanhará noite após noite, e a mão, cada vez mais afeita ao enredo, o apertará como se a sucuri tivesse sede de leite e o ordenhasse.
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