terça-feira, 11 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (100) -- O encontro
A cachorra foi posta no quartinho de empregada, nos fundos, mas o insistente cheiro do seu cio espalhou-se pela rua. Em poucos minutos, mais de dez machos petulantes e ansiosos começaram a fazer sentinela no portão da casa, latindo, uivando, mordendo-se, dilacerando-se. A manhã toda foi assim, mas Fúlvia, que tinha motivo para estar de bom humor, não se incomodou. Ao meio-dia, os cachorros mais experientes, sentindo que a cachorra não sairia, foram cheirar outros postes e buscar outros rumos. Enquanto esperava a água ferver para preparar um miojo, Fúlvia olhou pela janela da sala e viu só um cachorrinho tolo que arranhava o portão e soltava seu apelo apaixonado. O telefone tocou. Fúlvia ficou ouvindo por um minuto, depois desligou, com raiva. Foi até a cozinha, pegou a panelinha e, com passos resolutos, andou até o portão e jogou a água fervente no cachorrinho. Enquanto ele corria ganindo para a esquina, ela voltou para dentro com a certeza de que Mateus a enganava quando se dizia apaixonado. Era o terceiro encontro que ele desmarcava naquela quinzena.
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