segunda-feira, 3 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (82) -- O macaco
Pela terceira vez a avó, que estava na loja com a neta para lhe comprar um presente de aniversário, procurou fazê-la desistir de uma boneca que, a cada botão apertado, abria e fechava os olhos, cantava, pedia comida, ria, chorava. Ajudada pela vendedora, a avó tinha já enaltecido os encantos de outras bonecas e tentado desviar a atenção da neta para uma cozinha linda, com fogão, geladeira, liquidificador e batedeira, mas a neta havia recusado tudo com obstinação e, agora, rejeitando também um quebra-cabeça de cem peças, tinha voltado para o lugar onde a boneca parecia chamar por ela. Novamente a avó lhe disse que não dispunha de tanto dinheiro assim e, dessa vez, como se finalmente houvesse compreendido, a menina se dirigiu a um canto da loja em que estavam os saldos, mercadorias que por um defeito qualquer podiam ser compradas por preço baixo. A avó disse que ela estava sendo malvada, que aquilo já era uma provocação, mas a neta começou a revirar os brinquedos ali amontoados, até achar um macaquinho sujo e com um olho estropiado: "Eu quero este." A avó ainda tentou convencê-la a levar outro macaco, igual ao outro mas sem nenhum aleijão aparente. Mas a neta resistiu e, enquanto a avó e a vendedora balançavam a cabeça, abraçou o macaco, beijou-o muito e esforçou-se para não chorar.
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