segunda-feira, 12 de julho de 2010
Lírica (125) - Tempestade
Era então jovem e sua ideia de amor ficaria bem em qualquer cantinho de parede: um quadro em que, sobre a plácida superfície do mar, um barco levava passageiros sorridentes que tiravam fotos de tudo e acenavam para a praia. Anos depois, o mar subitamente se revoltou, ondas imensas se ergueram e só num painel caberia toda a fúria que se batia agora contra o navio, para esmagá-lo, enquanto os marinheiros, como formigas apavoradas, corriam para todos os lados, invocando Deus e lançando maldições. O barco deslizando nas águas tranquilas havia desaparecido, e a paisagem amena se transformara numa cena convulsionada, mas ele gostou de estar dentro daquele tumulto, daquela vertigem, daquela voragem - mais um marinheiro clamando por Deus, berrando apelos e atirando imprecações para o amor, pelo amor, contra o amor.
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