quinta-feira, 29 de julho de 2010
Lírica (291) - Cidadão do mundo
Fazia duas décadas que, entrando num ônibus para São Paulo, ele tinha dito que iria arranjar um emprego e voltaria para se casar. Ela continuava aguardando, cada vez com menos esperança. Mas hoje, certamente porque se completam exatos vinte anos da partida dele, em 29 de julho de 1990, ela teve um pressentimento de que ele afinal chegaria. Em um lugarejo a cinquenta quilômetros dali, onde estava fazia um mês, depois de andar por cidades às quais ninguém acreditava que ele tivesse ido - Nova York, Bruxelas, Buenos Aires, Lima -, ele, recordando-se também da promessa feita vinte anos antes, pensava em voltar. Bastaria pegar um ônibus e uma hora depois estaria na cidadezinha de onde saíra e onde deixara a moça chorando e esperando por ele. Chegou a ir à rodoviária, mas, por ter descoberto em suas andanças que o amor não era bem o que se dizia, entrou num bar, gastou em cerveja o dinheiro da passagem e ficou lembrando com quantas mulheres havia topado em tantos lugares do mundo.
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