domingo, 25 de julho de 2010
Situações (5) - Desejadas traições
Na lanchonete do shopping, a mulher olhava para o casal de jovens namorados sentados à mesa ao lado. Embora tivessem pedido dois sanduíches exatamente iguais, com os mesmos pacotes de batatas fritas, e os mesmos refrigerantes, estavam, entre beijinhos e risadinhas, trocando mordidinhas e goles: vê como o meu está gostoso, vê. Pareciam dois passarinhos tolos acreditando, como ela havia feito tantos anos antes, na perenidade do sol, da juventude e do amor. Tão bobos, tão tolos. Ela sabia que no fundo daquela ingenuidade havia, latentes, o que havia em cada homem e em cada mulher: os germes da inconstância, da infidelidade, do desejo de mudança, da traição. Aquela garota com rosto de anjo não sabia ainda, mas viria a esquecer aquele momento, e a vivê-lo com outro garoto, e com outro homem, e com outro, e com outros. E aquele menino sorridente de cabelo espetado faria o mesmo. A traição, se bem que ele não suspeitasse, já morava também no coração dele. Sem vontade de continuar vendo aquela exasperante troca de beijos, de mordidinhas e de goles, ela se levantou da mesa, lembrando-se de quantas vezes traíra e fora traída e pensando em como seria abençoado se houvesse ainda alguém que a traísse e que ela pudesse trair, alguém que a estivesse esperando no apartamento para o qual ela voltava agora, com frio no corpo e solidão na alma.
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