Pensar num ano
o sufoca
Trezentos e sessenta e cinco dias
a sabedoria da dor já lhe ensinou
são trezentas
e sessenta
e cinco gotas
de suplício chinês
pingando
pingando
pingando
pin gan do
forte mais
forte cada
vez mais forte
como as selvagens batidas
de um tambor sacrificial
pingando
pingando
até que a alma torturada
repudiando sua honra
e nobreza
levante a saia
e como uma puta
de porto
faça reluzir
seu dente postiço
de falso ouro
e sugira enlouquecedoras
abominações
aprendidas com o
Diabo e com
marinheiros
de todos os oceanos
desde que no final
estuporada
estourada
estuprada
lhe concedam
o doce descanso
da morte
Pensar num mês
o atormenta
mesmo quando
como enganoso consolo
ele pensa em fevereiro
Um mês são
não há como não saber
dias e dias e dias
dos quais quem
implora misericórdia
recebe só
escárnio
caretas
zombarias
De uns tempos para cá
pensa em uma semana
Parece-lhe
que a semana
por feminina ser
tem um rosto
mais compassivo
Sete dias
sete dias apenas
sete dias
dos quais um
o abençoado
lhe trará
a voz que
o fará sentir
de novo nos ombros
os dedos do sol
e erguer-se
dentre os mortos
Pensa em uma semana
e como se ela
fosse uma mãe
ele ardiloso
lhe elogia os filhos
Pronuncia domingo
sussurra segunda
diz terça
modula quarta
murmura quinta
tenta sexta
arrisca sábado
e espera que um deles
seja o sésamo
que lhe abrirá
a caverna
onde estão
não colares
nem pérolas
nem moedas preciosas
mas o inestimável tesouro
do amor e da vida
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