terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Aquele do cachorro
Um dos velhinhos será conhecido como "aquele lá que tem o cachorro". No meu primeiro dia, perguntarei como será possível alguém manter oculto um cachorro num asilo em que um toco de cigarro no chão é motivo de abertura de inquérito administrativo. Estranharão a pergunta, como se eu estivesse duvidando da existência de Deus. Um dia, já no meu terceiro mês ali, quando eu tiver quase esquecido o cachorro, me verei pela primeira vez sozinho com o homem, no jardim. Perguntarei baixinho pelo cachorro, e o homem, mais baixinho ainda, dirá que o enterrou na véspera e me apontará um lugar no gramado. Eu colocarei a mão no ombro dele, para consolá-lo, mas ele, depois de me pedir segredo, contará não estar mais triste, por ter arranjado um gato. Perguntarei sobre a cor do gato e ele, olhando inquieto para todos os lados, me prometerá: "Um dia eu te mostro."
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