terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Hoje
Escrevo-te hoje como fiz tantas vezes, antigamente. Abri a janela e me deu vontade de te mandar o sol, como fazia. Ele não está como esteve em tantas daquelas manhãs, mas eu o mando mesmo assim. Que possas desculpar o estado dele, tão murcho, tão desanimado. Talvez, como eu, padeça de algum mal amoroso. Talvez ele tenha se apaixonado pela lua, talvez por uma estrela, quem saberá? Também os passarinhos estão escassos hoje, assim como seus cantos. Para compensar, há no colégio aqui em frente um alarido, muitas vozes reunidas naquela que soa sempre como uma só voz, a inconfundível voz da juventude. Gostaria de ser uma delas e subir confiante para o céu da manhã. Tudo que a juventude canta se transforma em hinos. Eu, aqui, vou balbuciando palavras que, por mais que as vigie, acabam sempre formando versos tristes, elegias. Todo conhecimento é triste. Como é bom confiar em tudo, como confiam esses jovens que a sirene chama agora para a terceira aula. Não imaginam o que virá. Conhecerão mais coisas hoje, outras tantas amanhã e, por menos aplicados que sejam, inevitavelmente acabarão aprendendo que viver não será sempre esse alçar de vozes alegres, que logo as manhãs não serão mais como esta, e que, do outro lado da rua, alguém poderá estar no micro, teclando teclas desesperançadas. Um dia estarão do outro lado da rua, também.
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