Assim como certos pintores obcecados com um tema - marinhas ou naturezas-mortas -, ele tende a ser monotemático, a falar só do seu sofá (às vezes, para disfarçar, o chama de poltrona). Sua vida se passa ali, dezesseis horas sentado e oito deitado. Ouve pela casa sussurros que o censuram pelo pecado de, podendo andar, ter desistido de fazê-lo. Se continuar sem exercitar as pernas, vai acabar numa cadeira de rodas, ouviu dizerem. E entusiasmou-se com essa ideia, a da cadeira. Acha que saberá dirigi-la bem, ao menos para ir ao jardim de manhã e ficar olhando por uns quinze minutos a inútil beleza das rosas.
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