Há muitos anos eu, então um adolescente fustigado pela doce rudeza do Amor, escrevi meu primeiro soneto, que era já um prenúncio de como o coração seria sempre minha parte mais viva e mais fraca. Eu poderia tê-lo escrito hoje, porque nada mudou em mim. Envelheci, mas a razão que dizem vir com a maturidade não acompanhou meus anos. Fui um homem vítima de cecílias, irenes, josefas, marias ritas (e quantos nomes mais que o Amor usou como disfarce) e, se tivesse a alma verdadeira de um poeta, por certo seriam melhores estes versos e os que depois meu coração atormentado me ditou.
MARE VITAE
Há quanto tempo o mar que chamam vida,
Raivoso, sem alívio ou remissão,
Arroja minha frágil nau vencida
Às tristes praias da desolação.
Há quanto tempo este desejo vão,
De calma, de consolo, de guarida,
Ou desvia imprevisto furacão
Ou torce tempestade impressentida.
E sempre novos portos, nova gente.
Mas eu, que a sorte com ninguém reparto,
Prossigo sempre a intérmina jornada,
Em busca de algo, pois não tenho nada:
Nem peito, quando chego, que me aquente,
Nem lenço que me acene quando parto.
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