sábado, 16 de junho de 2012
Desforra
Enquanto o homem arfa com seus oitenta e tantos quilos sobre ela e grunhe em cada estocada, ela, acariciando a grande mulher nua que ele tem nas costas, sente que é por essa tatuagem, e pelas outras que se espalham pelo resto do corpo (mulheres em diferentes estágios de nudez), que ela se dá a ele assim no motel. Seis meses antes, tinha querido levar lá um primo, dez anos mais jovem que ela, mas ele se fizera de desentendido. Garoto bobo, todo limpinho, certinho, sem um cravo no rosto, sem um fio de barba. Está em Viena agora, já faz um mês, estudando música. Enquanto o homem acelera o ritmo das estocadas e geme como se o estivessem esfolando, ela imagina o primo deitado também numa cama, suportando o peso de um homem, e por um momento deseja, com rancor, que seja um carroceiro mais bruto ainda do que este que a sacode como se fosse quebrá-la, e que ele dilacere aquela carne branca de pianista. Mas não seria disso que o priminho gostaria?
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