sábado, 15 de setembro de 2012
Boa noite
Boa noite. Que eu pudesse te dizer ao menos isso, como se o acaso nos tivesse juntado num lugar improvável pelo qual tu passasses por qualquer motivo absurdo e pelo qual eu, por qualquer motivo desatinado, também estivesse passando. Eu te diria boa noite, com a sensação de que nunca mais teria a oportunidade de te dizer, e tu, depois talvez de vacilar um pouco, me dirias também boa noite e seguirias teu rumo. Eu continuaria parado, gozando o som daquelas duas curtas palavras. Não me atreveria a te seguir. Ah, por que desde o início não nos dissemos só bom dia, boa tarde, boa noite? Por que as palavras nos traíram tanto? Por que nos magoamos tanto, por que nos ferimos, por que abrimos entre nós este vale que regamos com nossas lágrimas, nas quais nos afogamos? Que eu pudesse te dizer boa noite, só boa noite, e houvesse nessas palavras tudo que eu quis dizer e tão mal disse, e que, como se uma chuva tivesse me lavado, eu pudesse reaparecer diante dos teus olhos como talvez tenha te parecido ser na primeira manhã, ou que pudesses me desculpar por eu ter mudado tanto quanto dizes que eu mudei (e mais não dizes, eu sei, porque te impede a gentileza). Que eu pudesse dizer boa noite e imaginar que, com um sorriso talvez, me dissesses também boa noite.
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