quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Os frutos
Eram belos os frutos. Lembro-me deles, esplêndidos, dourados. Lembro-me deles dia e noite, evoco-os em sonhos, e minha obstinada memória pinta-os cada vez mais belos, esplêndidos e dourados aos meus olhos reminiscentes. Lembro-me deles. E como poderia deixar de lembrá-los? Eu os contemplei naquela manhã e soube, ao contemplá-los, que jamais vira ou viria a ver outra imagem que me fizesse acreditar tão plenamente que a vida não existe senão para que contemplemos a beleza e a louvemos. Contemplei os frutos. Não toquei em nenhum, porque a nenhum homem é lícito tocar a beleza. Contemplei-os naquela manhã tão distante e hoje, quando olho minhas mãos, me conforta vê-las vazias. Mas a memória traz ainda, às vezes, as instigações do vento para que elas os colhessem, e os lábios, aos quais neguei o mel que adivinhavam na polpa, ameaçam queixar-se. Contemplei os frutos, belos, esplêndidos, dourados, naquela manhã. Contemplo-os ainda, contemplo-os sempre, sempre.
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