"Nem sequer por um instante imaginei, na violenta paixão que minha mãe me inspirava, que ela pudesse, mesmo no tempo do desvario, tornar-se minha amante. Que sentido teria tido esse amor se eu perdesse um mínimo que fosse do respeito sem limite que sentia - e que, na verdade, me desesperava? Aconteceu de eu desejar que ela me espancasse. Eu tinha horror desse desejo, ainda que ele se tornasse lancinante, algumas vezes; via nele minha trapaça, minha vileza! Jamais houve entre mim e ela nada de possível. Se minha mãe tivesse desejado, eu teria amado a dor que me fizesse sentir, mas não poderia humilhar-me diante dela: aviltar-me aos seus olhos teria sido respeitá-la? A fim de gozar essa adorável dor, precisaria, em troca, espancá-la também."
(Do livro Minha mãe, tradução de Maria Lucia Machado, publicado pela Editora Brasiliense.)
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