domingo, 24 de fevereiro de 2013
No jornal (Major Quedinho) - 42 - Dia de pagamento
Em todas as décadas nas quais trabalhei no jornal, nunca houve um dia sequer de atraso nos pagamentos, nem na quinzena nem no fim do mês. Se o dia 15 ou o 30 caíssem num sábado, domingo ou feriado, pagavam-nos antes. E - temeridade das temeridades - pagavam-nos em dinheiro. Aparecia o pagador na revisão, com os envelopes recheados, e entregava-os. Numa dessas noites de pagamento, passado já o horário habitual, surgiu o rumor de que a tesouraria tivera um problema. Ênio Mendes - um revisor que gostava de polemizar a respeito de tudo e chegava a refutar os próprios argumentos e aceitar os do adversário, pelo prazer de continuar a discussão - ficou indignado: "Que história é essa? O pagamento é hoje. Eu não quero nem saber. Eles vão ter que cagar dinheiro!" Oswaldo de Camargo, que tinha sido seminarista, conhecia muito bem latim e o empregava com tanta frequência quanto usava o português, apoiou: "Isso mesmo! Defaecare pecuniam!" Não foi preciso, que eu saiba, fazer o que Ênio sugerira em português e Oswaldo traduzira para o latim. O pagamento foi feito logo depois. Este episódio quem o reavivou em minha memória foi Rafael Sânzio de Azevedo, o polímata, que está em uma das notas disto que já vai se tornando quase uma série.
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