domingo, 24 de fevereiro de 2013
No jornal (Major Quedinho) - 43 - Dr. Julio de Mesquita Filho
Vi poucas vezes o dr. Julio de Mesquita Filho. Bastaram para que ele seja até hoje, para mim, a imagem do Estadão. Com exceção de uma única vez, foi sempre no saguão de entrada que eu pude vê-lo. Ele descia do elevador e - pelo menos na fase mais áspera dos Anos de Chumbo - observei em duas ocasiões, como que surgidos do nada, dois ou três homens que imaginei serem seguranças (se eram, creio que seriam não do jornal, mas provavelmente do Dops - Departamento de Ordem Política e Social). De qualquer forma, não chegaram a dar três passos ao lado dele. Com um gesto sóbrio, ele mostrou que desejava sair sozinho, e foi assim que saiu. Outro episódio demonstra como era o dr. Julio. Eu estava na fila do elevador. Quando este chegou, o ascensorista abriu a porta e, vendo que o dr. Julio chegava, fez um gesto para a fila, dando a entender que devíamos abrir espaço para ele. O dr. Julio parou, porém, e fez um sinal para que fôssemos entrando. Ele foi o último. Eu disse, no início desta nota, que apenas numa das vezes em que o vi não foi no saguão de entrada do prédio. Foi numa tarde em que, tendo faltado o chefe da revisão, Nelson Lima Neto, estávamos sob as ordens do subchefe, Ernesto Cerf, que, normalmente ranzinza, nesse dia estava bem pior. Nós nos revoltamos com uma determinação dele, esdrúxula e injusta, e formamos um grupo que subiu à redação. Estávamos revoltados e dispostos a não trabalhar mais nessa tarde. Não creio que tivéssemos ido para falar com o dr. Julio, propriamente, mas foi ele quem acabou nos atendendo. Ouviu-nos, deu-nos razão e recomendou que voltássemos e informássemos ao chefe sua decisão: "Se o subchefe tiver alguma dúvida, digam que ele pode ligar para mim."
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