terça-feira, 16 de abril de 2013

Meu tio Luís

Em minha família a alegria é quase uma ofensa. Fomos sempre, e somos, melancólicos. Achamos que a finalidade da vida é o sofrimento. Houve, que eu saiba, só uma exceção: meu tio Luís. Ele era estouvado, beberrão, mulherengo. Foi assim quando jovem e assim permaneceu até os dias em que no hospital, mal conseguindo engolir água, tentava com o charme que nunca o abandonou subornar parentes e enfermeiras para que lhe levassem um gole de uísque, de conhaque ou de cerveja, fosse lá o que fosse. Além de tudo que eu já disse, ele era jogador. Quando tinha vinte e cinco anos, por aí, trabalhava no Cassino Atlântico, em Santos.  Uma noite, vencido seu turno, entrou num jogo de cartas, possivelmente pôquer. Foi ganhando, ganhando, e ganhou tanto que outro jogador, que havia perdido tudo e queria continuar jogando, lhe ofereceu vários terrenos à beira-mar pelo dinheiro ganho. Era quase um quarteirão. Meu tio preferiu continuar jogando. Perdeu tudo. Disse à família que aquilo havia sido uma lição, mas o seu olhar era o de um menino que houvesse cometido não mais que uma travessura. Tempos depois, a sorte, possivelmente encantada com ele e tomando-o quem sabe pelo astro Gary Cooper (de quem era a cópia exata), voltou. Ele ganhou mais ainda do que na primeira vez. Esqueceu-se da lição, não parou - e perdeu tudo novamente. Foi, talvez em toda a história da família, o único que se divertiu sempre, do primeiro ao último dia de vida.

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