domingo, 28 de abril de 2013
O amor...
... não aprende nunca, não se emenda, não se corrige. Mal se refez de uma desilusão que ele prometeu a si mesmo ser a última e lá vai ele de novo, pronto para outra. O amor gosta de tocar campainhas, de contar histórias tristes e de pedinchar. Contenta-se com uma sobra do jantar, com uma empadinha que ontem caiu ao chão e ninguém quis comer. O amor agradece qualquer coisa que lhe deem. Vai com sua cesta velha, muito velha, que um dia deve ter tido uma cor, que já não se distingue. Lá vai ele, descendo a rua. O amor tem um jeito de Carlitos. O amor gosta de mulheres pálidas de rostos infantis, mulheres que, como ele, passaram fome na infância. O amor pede pouco, um beijo dado só com o bico, um beijo de passarinho. O amor é como Carlitos. Ninguém imagina Carlitos beijando Marilyn Monroe. Marilyn Monroe é para ser beijada por marinheiros. Carlitos beija uma garota desconhecida, pedinte como ele, que, para lhe mostrar como o ama, lhe oferece uma laranja que acabou de catar entre as sobras da feira. Ele e ela dividirão a laranja se alguém lhes emprestar uma faca, ou a descascarão com as unhas sujas, enquanto caminham para um horizonte ensolarado, sob uma dessas músicas, talvez "Smile", que fazem acreditar na vida e na sua beleza. Carlitos beija Paulette Godard e caminha com ela na direção do arco-íris que virá depois da chuva.
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