sexta-feira, 26 de abril de 2013
O impossível calor
Magnífica juventude, procuro-te ainda em mim, nestes dias em que, encolhido no sofá, minhas mãos, ansiando pelo calor que tiveram de outras mãos, se tocam, se tateiam, se investigam. Uma acusa a outra de haver-te furtado e de estar contigo, mas é sempre inútil o tocar, o tatear e o investigar. Não estás em nenhuma delas. Já disse às duas que, se te quiserem de volta, devem buscar-te entre as garotas que te levam nos cabelos ensolarados e entre os rapazes cujo sangue incendeias. Que procurem esse calor, mas sem o ímpeto antigo e sem a cantilena do amor. Que se estendam com as palmas para cima e recolham o que a compaixão lhes quiser dar. Se nem isso conseguirem, ao menos um par de luvas hei de ter guardado em alguma gaveta, talvez naquela em que estão fotos de alguém que presumivelmente deveria parecer-se comigo e um boné que não posso ver sem chorar. Que uma calce a outra e que, como duas velhas amigas, se aqueçam. Pena não haver luvas para o coração.
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