segunda-feira, 29 de abril de 2013
Que eu...
... esta noite seja abençoado com sonhos de luxúria, coxas generosas, seios úberes, folhagens exuberantes e suavemente olorosas. Cansei de poetar sobre estrelas e a lua. Arre, por que continuar sendo essa coisa antiquada cheia de estrofes e rimas? Já passou o tempo de cobrar a minha parte. Se falar de rosas, falarei delas em outro contexto, como, por exemplo, falou o poeta Jamil Almansur Haddad quando escreveu o verso "bundas que parecem rosas". Ter setenta e quatro anos é ser inimputável. Não tenho imagem pela qual deva zelar e quem sabe me apliquem, no fim, a atenuante de chamar-me de escritor erótico. Não concorrerei mais a cargos públicos, e ser cronista já era. Nada de árvores, de flores, de bairros, de histórias edificantes (e paulificantes). Enquanto Seu Câncer não vem, cantarei quadris tomados pelo fogo do Inferno, lábios ávidos de saliva e sacanagem, pernas que aprisionam outras como tenazes, desmaios, palavrões soando como cânticos no momento do gozo, e rios imensos, leitosos, correndo de madrugada e arrastando-nos para a mais deliciosa de todas as danações.
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