quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Kama Sutra - CCLXX - Márika Voroshenka (8)
Escrevo estas notas sobre Márika Voroshenka assim, sem intenção de sequência. Vou me lembrando dos fatos, como ocorreram, e como ainda ocorrem, nos dias em que nos encontramos, ou de manhã ou à tarde, no parque. São fatos de natureza eminentemente sentimental, e nesse sentido pouco diferem dos narrados em diários de adolescentes. Ao contá-los, recordo-me ocasionalmente de algum anterior e - como todos me parecem importantes nesta história que, se não é propriamente de amor, tem algo de similar - acabo por comentá-los também. Há alguns dias, por exemplo, Márika me submeteu a uma espécie de jejum de beijos, e me vem à mente agora como nasceu essa privação que, felizmente, é esporádica, constituindo na verdade um jogo nosso. A origem data de mais ou menos dois meses, quando tiveram início meus encontros com ela. Falei na ocasião do equilíbrio quase poético que julgo haver entre o sadismo e o masoquismo e ela se declarou horrorizada com aquilo, que qualificou como uma visão deturpada e insensata. E, logo em seguida, em tom zangado, me disse que, se eu quisesse, poderia continuar sentado com ela, mas sem lhe falar nem tocá-la, até o fim do encontro. Era o castigo que ela me aplicava por eu mostrar minha simpatia pelas relações sadomasoquistas. Por uns quinze minutos, toda vez que eu tentei abraçá-la fui repelido. Durante esse tempo, procurei aclarar minha argumentação, mas ela não me deu resposta. Quando nossos relógios indicavam já próximo o fim do encontro, Márika olhou para todos os lados, cautelosa, e me abraçou fogosamente, e deixou em minha boca não só o sabor de uma balinha que vinha chupando metodicamente, mas também um pedacinho dela. Chamou-me de tolinho e, enquanto voltava a me proporcionar a doçura dos seus lábios, eu ia tentando adivinhar a motivação dela quando me negara os beijos que repentinamente liberava. Sei hoje que ela já naquele dia pensava apenas em tornar mais picantes nossos beijos. Como eu disse acima, ainda agora usamos esse expediente com alguma regularidade, e ele nos vem sendo útil para manter isto que me recuso a chamar de diversão, mas que não tem sido muito mais, por nossa própria cautela e vontade. De vez em quando, essa cautela e essa vontade fraquejam. Num dia da semana passada, quinta eu acho, eu apertava seu seio e ela me disse, em voz baixa: "Tem gente olhando." Em seguida, porém, me ordenou: "É mentira, bobão. Aperta mais, aperta forte, seu sádico!"
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