sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Kama Sutra - CCLXXIV - Márika Voroshenka (12)
Têm sido salutares os trinta minutos diários que venho passando com Márika Voroshenka. Aos amigos que elogiam a nova cor do meu rosto, no qual depois de dois meses já se nota bem o efeito do sol, tenho o impulso de dizer que esse é o menor dos benefícios. Mas, se fosse contar-lhes sobre Márika e nossos encontros no parque, eles não acreditariam e, quando eu narrasse nossas apalpadelas e nossos loucos beijos, me chamariam abertamente de mentiroso. Minha idade não anima ninguém a supor que eu possa ainda me entregar às práticas com que me entretenho e (quero acreditar) entretenho Márika. Não há momento em que eu não pense no que acontecerá se um dia Márika exigir de mim, ou sugerir, um comportamento que requeira algo além das mãos, dos dedos, da boca, dos lábios e da língua. Imagino-me num motel ou dentro do carro dela (ela há de ter um) e às vezes acho que tudo sairá normalmente, mas no geral - já que há tantos anos não me vejo em tal situação - julgo que me portarei vexatoriameente. Às mulheres, por sua conformação física e também por ser nelas natural (não sei se ainda é assim) uma atitude mais discreta, não ocorre esse receio. Já eu, já os homens temem a falha que será impossível dissimular ou ocultar. Sei que se pode satisfazer uma mulher de várias maneiras, mas isso não diminui nem nunca diminuirá, num homem, o tamanho do seu maior fantasma: a impotência. Agora que minhas mãos e as de Márika, minha boca e a sua perderam o pudor que tinham no início, não sei, em certas ocasiões, como a de ontem, se quero que esta loucura de nos mordermos, de misturarmos a saliva e ficarmos mais perto de tocar nossas partes íntimas acabe me colocando despido diante dela, não no parque, naturalmente, ou se continuo esperando que a ela contente isso que diariamente fazemos, se bem que nem a mim mesmo contente mais. Ah, Márika, haverá vigor ainda em meu corpo, haverá ainda mel nele? Márika, quando você aproximou ontem a mão, mais do que nunca, daquele ponto que parece latejar ainda agora em mim, eu desejei ser tão melhor, tão mais adequado para você... E, no entanto, fiquei tão aturdido que nem tive presença de espírito para avançar também a minha mão para aquele ponto seu que tanto mereceria retribuição...
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